“Longe da imagem idealizada, o profissional se depara com uma série de obstáculos”, lamenta Lymark Kamaroff, assessor jurídico da ACCOERJ.
A Medicina, historicamente vista como uma profissão de prestígio e estabilidade financeira, enfrenta no Brasil contemporâneo um cenário complexo que impede o pleno sucesso econômico de muitos de seus profissionais.
Conheça os obstáculos:
Alto custo da formação e especialização
Anos de graduação em Faculdades, muitas vezes privadas e caras, seguidos por residências médicas e pós-graduações, acumulam dívidas substanciais para o recém-formado.
O retorno financeiro, contudo, não acompanha essa curva de investimento inicial.
Mercado de trabalho
Especialmente em grandes centros urbanos, mostra-se saturado em algumas especialidades, acirrando a concorrência e pressionando os valores de remuneração para baixo.
Setor público
Onde uma parcela considerável de médicos atua, os salários muitas vezes são incompatíveis com a carga horária e a responsabilidade exigida.
A precarização das condições de trabalho e a falta de reajustes salariais adequados levam muitos profissionais a buscarem múltiplos empregos – em diferentes hospitais, clínicas e até cidades – para complementar a renda.
Essa prática, embora necessária para a subsistência, resulta em uma exaustiva jornada de trabalho, conhecida como “quot duplo” (duplo plantão) que compromete a saúde mental do médico e, ironicamente, a qualidade do atendimento que ele pode oferecer a longo prazo.
Atuação na saúde suplementar
Também não está isenta de problemas. Os repasses dos Planos de Saúde aos profissionais são frequentemente defasados, com valores irrisórios por consulta ou procedimento.
A burocracia excessiva e a demora nos pagamentos impõem um fardo administrativo pesado, desviando o tempo que poderia ser dedicado à prática clínica.
Custos operacionais
Para manter um consultório privado – aluguel, equipamentos, secretariado, impostos e seguros de responsabilidade civil (malpractice insurance) – são elevados e consomem uma fatia considerável da receita, dificultando a acumulação de capital e a expansão da prática.
Instabilidade econômica do país
Também desempenha um papel crucial. Crises financeiras afetam a capacidade dos pacientes de arcar com consultas particulares ou procedimentos não cobertos por planos, reduzindo a demanda por serviços privados.
Soma-se a isso a má distribuição de profissionais, com a concentração em grandes metrópoles, enquanto regiões mais afastadas sofrem com a carência, mas nem sempre oferecem remuneração atrativa para deslocar esses profissionais.
Em suma, o médico brasileiro moderno navega por um labirinto de desafios financeiros que exigem resiliência e constante adaptação.
O sucesso financeiro não é uma garantia, mas sim uma conquista árdua, muitas vezes alcançada à custa de sacrifícios pessoais e profissionais em um sistema de saúde que ainda precisa de profundas transformações.
Até a próxima edição. Abraço.
Lymark Kamaroff – Advogado e Assessor jurídico da ACCOERJ